Obesidade

A obesidade é conseqüência do acúmulo excessivo de gordura no organismo. É considerada um dos maiores problemas de saúde pública na atualidade, já que é uma das doenças mais freqüentes e sua incidência aumenta em proporções exorbitantes. 

Sou obeso? 

É possível calcular o índice de massa corpórea (IMC) através da seguinte fórmula:
IMC=peso/altura x altura 
Exemplo: uma pessoa com peso de 130 Kg e altura de 1,70 m, o ICM = 44,98
O diagnóstico de obesidade e a sua intensidade variam de acordo com o IMC.
Sobrepeso: 25,O – 27,7
Obesidade moderada: 35,O – 39,9
 

As pessoas com o ICM acima de 40 possuem obesidade mórbida, ou seja, grande excesso de peso, apresentando alto risco de complicações se não tratadas adequadamente.
 

Riscos da obesidade mórbida:
 

A obesidade mórbida aumenta demasiado o risco de doenças e de morte, tais como:
  • Doenças do coração e da circulação, como infarto, derrame e hipertensão arterial
  • Diabete
  • Doenças da coluna e das articulações
  • Doenças do aparelho digestivo, como pedra na vesícula e doença do refluxo.
  • Alterações hormonais e sexuais
  • Dificuldade de respiração e do sono
  • Depressão e outras alterações psicológicas
  • Risco elevado de morte. Dependendo da idade, o paciente com obesidade tem de 6 a 12 vezes mais chance de morrer do que uma pessoa normal.
     
O paciente com obesidade mórbida possui diversos riscos de doenças, além de limitações na qualidade de vida, como dificuldade para dormir, andar, correr e na utilização dos meios de transporte. É comum vivenciar problemas de relacionamento com amigos, colegas e mesmo familiares, até conseqüências econômicas podem ocorrer devido à limitação em certos tipos de trabalho.
 

Qual a causa da obesidade mórbida?

 
A causa da obesidade mórbida é complexa, sendo influenciada por diversos fatores. A hereditariedade (fator genético ou familiar) é bastante significativa na maioria dos obesos. É freqüente um paciente com obesidade mórbida ter um ou mais membros da sua família com o mesmo problema. 
 
A ingestão de alimentos em grande quantidade, principalmente os de elevado teor calórico, associada a pouca atividade física é preocupante. Alterações psicológicas e possivelmente hereditárias contribuem para a ingestão excessiva de alimentos, e fatores ambientais, sociais, econômicos e culturais também podem ser importantes.
 
Algumas doenças hormonais como da tireóide, da hipófise, insulina (tumor que produz insulina em excesso) e síndrome de Cushing (excesso de corticóide) também podem causar obesidade, mas com menor freqüência, menos de 1% dos casos.

 

Tratamento clínico:
 

Dieta rigorosa e um plano de exercícios regular, associados ou não a medicamentos que reduzem o apetite (anorexígenos) são efetivos no controle da obesidade leve e moderada.
 
No caso dos pacientes com obesidade mórbida, menos de 3% se beneficiam significativamente do tratamento clínico a longo prazo, mas apesar da elevada taxa de insucesso, todo paciente com obesidade mórbida deve ser submetido a tratamento clínico sob supervisão médica por pelo menos 2 anos, antes de ser considerado o tratamento cirúrgico.
 

Tratamento cirúrgico:

 
O único método eficiente para a perda de peso prolongada e a diminuição dos riscos de complicações e morte das doenças associadas à obesidade mórbida é o tratamento cirúrgico.
 
Por proteção aos pacientes, o Conselho Federal de Medicina regulamentou as indicações e os tipos de procedimentos cirúrgicos que podem ser utilizados no Brasil para o tratamento de obesidade mórbida (Resolução CFM no 1.766/05 de 13/05/05, pelo site www.portalmedico.org.br
  

Quem pode ser submetido ao tratamento cirúrgico? 

  • Pacientes com IMC acima de 40, ou acima de 35 que apresentem doenças associadas, como diabete melito, apnéia do sono, hipertensão arterial, dislipidemia (alteração do colesterol e ou triglicerídeos), doença das artérias do coração, doenças das articulações e outras.
  • O paciente deve ter mais de 18 anos de idade. Idosos e jovens entre 16 e 18 anos podem ser operados somente após precauções especiais.
  • Se a obesidade permanece estável há pelo menos 5 anos e o paciente foi submetidos a pelo menos 2 anos de tratamento clínico sem sucesso também é recomendável a cirurgia.
  • É necessária a ausência de dependência a drogas ilícitas, de alcoolismo e de doenças psicóticas ou demências graves ou moderadas.
  • Compreensão pelo paciente e seus familiares dos riscos e mudanças de hábitos intrínsecos a uma operação de grande porte e da necessidade de acompanhamento pós-operatório com a equipe multidisciplinar por toda a vida do paciente.

 
A cirurgia de obesidade mórbida é uma operação de grande porte, apresenta riscos e envolvem modificações definidas no aparelho digestivo. Serão necessárias mudanças no estilo de vida para que o procedimento tenha um sucesso duradouro. Assim, é importante que o paciente reflita bastante antes de decidir sobre realizar a operação.

É aconselhável que converse com a família e consulte seu médico de confiança. É uma cirurgia com muitos benefícios, compensadores para a grande maioria dos pacientes, já que, além de melhorar a qualidade de vida, reduz significativamente complicações em doenças associadas e o risco de morte.
  

O que devo esperar com o tratamento cirúrgico?

 
O principal objetivo do tratamento cirúrgico é ajudá-lo a perder peso, melhorando a qualidade de vida e reduzindo expressivamente os riscos de complicações, inclusive de morte.
 
A maioria dos pacientes perde de 50 a 80% do seu excesso de peso. Essa perda é acentuada no primeiro mês, tornando-se gradativa, de modo que cerca de 1 ano a 1 ano e meio após a operação, o paciente atinja seu menor peso e, seguindo as orientações pós-operatórias, não terá muitas mudanças nos próximos anos após o tratamento.
A participação do paciente é essencial para o sucesso da operação, já que é fundamental a mudança nos hábitos alimentares e no estilo de vida a partir de então. O que significa a ingestão de alimentos em menor quantidade e com menor valor calórico, além de se tornar uma pessoa mais ativa, com programas de exercícios regularmente. 
 

Avaliação Pré-Operatória:
 

O tratamento cirúrgico exige uma avaliação pré-operatória completa realizada por uma equipe multidisciplinar experiente em obesidade mórbida, a fim de determinar fatores de riscos que possam aumentar as complicações e comprometer o resultado da operação. Seu médico irá solicitar alguns exames e uma avaliação com um endocrinologista, nutricionista, psiquiatra ou psicólogo, anestesiologista e outros especialistas que ele julgar necessário.
Importante lembrar que esta avaliação é complexa para sua proteção.

 

Tratamento Cirúrgico

As operações usadas no tratamento da obesidade mórbida são também conhecidas como operações bariátricas. Estes procedimentos reduzem o tamanho do estômago e/ou o comprimento do intestino, cujo objetivo é limitar a quantidade de comida que você pode ingerir e/ou absorver.
 
Existem vários procedimentos, os quais podem ser divididos em:
 
1)    Restritivos. Procedimentos que reduzem o tamanho do estômago, limitando a quantidade de alimentos a ser ingerida. O paciente se sente satisfeito após ingerir uma quantidade menor de alimentos. Mesmo que queira, ele não consegue ingerir uma quantidade maior de uma única vez, pois ele tem a impressão que seu estômago está repleto (cheio). A banda gástrica, a gastroplastia vertical e o balão intragástrico são exemplos de operações restritivas. 
 
2)    Mal absortivos ou disabsortivos. Operações que reduzem o comprimento do intestino, diminuindo a quantidade de alimentos que o organismo (intestino) absorve. A parte do alimento não absorvida é eliminada nas fezes. Este procedimento foi bastante utilizado no passado, mas as graves complicações pós-operatórias fizeram com que atualmente ele seja usado apenas em casos excepcionais. 
 
3)    Mistos. Processos que associam tanto a redução do tamanho do estômago como do comprimento do intestino. Assim,  é reduzida tanto a quantidade de alimentos ingerida, como absorvida pelo organismo. Alguns exemplos são a operação de Capella, operação de Wittgrove, operação de Fobi, operação de Scopinaro e operação de desvio duodenal.
 
Principais procedimentos:
 

 

Com o objetivo de reduzir a capacidade do estômago e a ingestão de alimentos, esse procedimento consiste em na introdução de um balão inflável de silicone dentro do estômago por via endoscópica. Logo após a sua introdução, o balão é inflado com cerca de 500 ml de líquido. Um processo simples que é realizado ambulatoriamente, ou seja, o paciente não precisa ser internado.

  • O balão deve ser retirado no máximo em seis meses para evitar complicações e a perda de peso é geralmente moderada e temporária.
  • Complicações como erosões, úlcera, perfuração e obstrução (fechamento) do estômago, vazamento do balão e infecção em volta do balão pode ocorrer, mas não é comum.
  • O uso do balão é contra-indicado em pacientes com algumas doenças, principalmente do esôfago e estômago.

 

Um procedimento que consiste na colocação de uma prótese de silicone em forma de banda ou fita em volta da parte proximal (de cima) do estômago, provocando um estreitamento neste, assim cria-se um reservatório de pequena capacidade, cerca de 30 ml. A ingestão de alimentos preenche rapidamente esse reservatório do estômago e faz com que o paciente sinta-se satisfeito e pare de comer.

O grau de estreitamento do estômago pode ser ajustável (regulado) no pós-operatório com a injeção de líquidos no reservatório da banda localizado embaixo da pele do paciente, podendo ser ampliado ou reduzido, conforme a quantidade de alimentos que o paciente seja capaz de ingerir.

  • É necessário cooperação do paciente para obter perda de peso.
  • A diminuição do peso em pacientes que ingerem grande quantidade de alimentos hipercalóricos é pequena.
  • Perda de peso inadequada em longo prazo.
  • Alguns pacientes podem apresentar complicações como dilatação do esôfago, esofagite, perfuração do estômago e deslocamento de banda.
  • O procedimento é reversível.

 

  • Gastroplastia com Derivação Intestinal
    • Operação de Capella
    • Operação de Fobi
    • Operação de Wittgrove

Três técnicas distintas em alguns detalhes. É feito um novo reservatório gástrico (estômago) pequeno (cerca de 30 ml), para então, anastomosar (costurar) este reservatório com o intestino mais abaixo, cerca de 1 metro mais curto. O restante do estômago e o intestino desviado não são retirados do organismo, ficam apenas excluídos do contato com os alimentos. Assim, a quantidade de alimentos ingeridos e absorvidos, é menor. Alguns cirurgiões preferem acrescentar um anel no final do reservatório gástrico para reduzir a passagem dos alimentos do estômago para o intestino.

  • Técnica mista, com predominância do fator restritivo. A quantidade de alimentos que o paciente pode ingerir é bastante limitada.
  •  A principal vantagem é a perda de peso adequada e duradoura na maioria dos casos.
  • Sendo um procedimento tecnicamente mais complexo, podem ocorrer complicações no pós-operatório imediato, como infecção, hérnia e fístula (extravasamento do conteúdo do estômago ou intestino para a cavidade do abdômen ou para a pele).
  • As complicações tardias ocorrem em poucos pacientes. A maioria possui uma excelente qualidade de vida depois dos primeiros meses seguintes a operação.

 

  • Operação de Scopinaro
  • Operação de Desvio Duodenal

São técnicas que ressecam (retiram) uma parte do estômago e anastomosam (costuram) o restante dele com porções inferiores do intestino.

Nesta operação parte do estômago é retirada de forma definitiva do organismo, diferente das técnicas de gastroplastia com derivação intestinal. Com a redução do estômago, diminui-se a quantidade de alimentos ingerida pelo paciente, além de reduzir bastante a absorção dos alimentos devido o desvio (derivação) do intestino.

  • Técnica mista, com predominância do fator disabsorvido. É pouco reduzida a quantidade de alimentos que a pessoa pode ingerir.
  • Aumento de evacuações e eliminação de fezes e gases fétidos (mal cheirosos).
  • Geralmente a perda de peso é adequada e duradoura.
  • Um procedimento tecnicamente mais complexo, possibilitando a ocorrência de complicações no pós-operatório imediato, como infecção, hérnia e fístula.
  • Complicações nutricionais e metabólicas tardias, tais como deficiência de vitaminas e minerais, são comuns.

 

 

Tanto a técnica aberta (incisão ou corte) como a laparoscópica (vídeo cirurgia ou técnica dos furinhos) são bastante utilizadas no tratamento de obesidade mórbida (operações bariátricas).
 
Na técnica laparoscópica, o gás (gás carbônico) é injetado na parede do abdômen a fim de criar um espaço, onde será feita a operação com segurança. O cirurgião faz três furinhos de meio a um centímetro onde são colocados uma micro-câmera de televisão e os instrumentos cirúrgicos, sem a necessidade de um corte grande na barriga (abdômen). O cirurgião e a sua equipe visualizam todos os órgãos do abdômen em uma televisão.
 
Essa técnica possui algumas vantagens como recuperação mais rápida do paciente, menor dor pós-operatória e cicatriz cirúrgica mínima. Entretanto, como a técnica do corte, também está sujeita a complicações. E, se o cirurgião, por algum motivo, não conseguir finalizar a operação através da laparoscopia, será necessário fazer um corte, convertendo a cirurgia para a outra técnica (aberta).
 
O seu cirurgião poderá ajudá-lo a decidir qual operação será melhor para você. Esta decisão deve ser tomada após considerar a sua idade, se você tem outras doenças, a sua preferência e a experiência do cirurgião.
 

Complicações:

 
As operações bariátricas podem ser excepcionalmente eficazes na perda peso, porém, não estão livres de complicações. Os riscos dependem de vários fatores, inclusive da idade e do grau de obesidade do paciente e do procedimento utilizado.
As principais complicações incluem trombose venosa e embolia pulmonar (coágulo de sangue no pulmão), infarto do miocárdio (coração), fístula (vazamento do conteúdo do estômago ou intestino para a cavidade do abdômen ou pele), infecção, sangramento, hérnia, distúrbios nutricionais e metabólicos e alterações psicológicas. A mortalidade (possibilidade de morrer) é de cerca de 1%.

É importante esclarecer que o risco do tratamento cirúrgico da obesidade mórbida é muito pequeno se comparado às suas vantagens.

Se seguidas as orientações, a recuperação da cirurgia ocorrerá sem complicações. 

1. O médico, ou nutricionista determinará uma dieta a ser seguida, dependendo do tipo de operação realizada.
 
2. Os cortes ou furinhos são fechados com pontos e cobertos com curativo (micropore). É comum que ocorra hematoma ou pequenos sangramentos. Isto é normal. Entretanto, se o corte tiver aparência de infecção (vermelho, com secreção de pus ou com cheiro forte), chame seu médico.
 
3. Respire fundo 3 vezes a cada hora para expandir melhor o seu pulmão e evitar complicações como febre e pneumonia.
 
4. Evite ficar muito tempo deitado ou sentado. Procure andar várias vezes ao dia.
 
5. Em pacientes da laparoscopia é freqüente dores no ombro, conseqüente à irritação de um nervo que se encontra entre o abdômen e o tórax, mas desaparece em algumas horas ou dias.
 
6. Dedicação e cooperação do paciente são essenciais para o sucesso do tratamento.